13 outubro 2007

Num futuro talvez não muito distante...

Outro dia, pensando num problema do trabalho, procurei inventar uma história (ou um contexto) baseando-me numa analogia. Acho que isso às vezes facilita enxergarmos a situação sob um ponto de vista diferente do que estávamos habituados.

...

Imagine você hoje chegando a uma loja de venda de automóveis com o objetivo de comprar um carro. Ao chegar, o vendedor lhe pergunta imediatamente o que você deseja. Sem pestanejar, você responde que precisa de um carro.

O vendedor, profissional especializado em venda de carros, então, lhe pergunta para que você precisa de um carro. Normalmente pensaríamos porque cargas d’água ele fez essa pergunta, mas, dependendo da sua resposta, ele pode lhe indicar um tipo de carro mais confortável, ou mais econômico. Se você quer um carro agora, precisa de algum que esteja à mão, no pátio ou a caminho da loja, não daria pra ser por encomenda (do jeitinho que você deseja, cor, opcionais, etc.) porque iria demorar muito.

Na verdade – você responde – eu quero um carro barato, econômico e confortável, que não demore muito de chegar, mas que eu possa escolher alguns opcionais que não são tão comuns de se ver nos carros que já estão no pátio prontos para venda.

Ok então – diz o vendedor – acho que tenho o carro bem do jeito que você quer!

O vendedor, então, lhe encaminha a um show-room para lhe apresentar o carro que você irá comprar e começa a apresentação do produto:

“Esse carro que eu vou te mostrar é um produto novo. Um novo conceito, na verdade. Mas um conceito baseado em estudos científicos visando facilitar a vida daqueles que precisam de um carro para se locomover pelas ruas.”

Ao abrir a porta do lado do motorista, você imediatamente repara que não há volante, e faz aquela cara de desentendido! Deve ser britânico, você imagina! Tecnologia britânica! Passando o olho no banco do carona, nada de volante também! E nesse caminho, seu olhar percebeu também a falta do câmbio e do freio de mão. Será isso um carro mesmo?!

Muito bonito – você afirma ao vendedor – mas, cadê o volante?!

O vendedor então, sorrindo como quem já está cansado de ouvir essa pergunta, responde: pois é! Como eu havia lhe dito, esse carro é revolucionário! Ele não tem volante! Na verdade, ele não precisa de volante. Nem de volante, nem de alavanca de câmbio nem de acelerador ou freio. Basta você entrar nele e dizer pra onde você quer ir e que roteiro você pretende que ele siga que ele, através de um sistema que estamos patenteando, te leva até lá, pelo caminho mais curto!

E tem mais, como a direção é toda automatizada, nós garantimos o menor consumo possível de combustível no trajeto! Isso porque o computador que controla o carro não vai fazer meia-embreagem desnecessária, não vai esticar marcha. Os desgastes dos conjuntos de freios e embreagem também são menores em comparação aos carros convencionais, porque ele nunca precisa fazer frenagens bruscas. Seus sensores estão sempre monitorando o ambiente ao redor do veículo fazendo com que isso seja desnecessário!

Pôxa – você exclama – que interessante! Mas, e se eu quiser tomar o controle do carro?!

Para que você necessitaria tomar o controle do carro – pergunta o vendedor.

Pensando no assunto rapidamente, você verifica que sua necessidade de controle do veículo não é realmente necessária, mas que você já está tão acostumado ao fato de ter controle da situação que esse novo paradigma lhe assusta!

Antes que você respondesse, o vendedor continua: sabe, para ter um carro desses, e para andar nele, você não precisa de habilitação! E lhe garantimos que nunca receberá uma multa ou será responsabilizado por atropelar alguém ou por uma colisão!

E quanto ao modelo, cor e opcionais, eu lhe garanto que entrego o carro bem próximo do que você quer em até uma semana, enquanto os modelos convencionais podem levar até 3 meses pra ficar do jeitinho que seja do seu agrado!

Começando a achar aquilo tudo uma piada ou pegadinha, você começa a olhar ao seu redor procurando uma câmera ou pessoas assistindo a situação, mas não consegue notar nada.

“Vamos supor que eu me interessei pelo carro. E o preço?!”

O vendedor, sabendo que ainda tem muita margem para negociação, diz: pra fecharmos o negócio agora, eu lhe faço esse carro, com os mesmos opcionais do modelo convencional, pela metade do preço do carro convencional!

Ai, então, você tem a certeza: só pode se tratar de uma piada!!!

Deixe-me ver se entendi – diz você – eu vou comprar um carro que vai me custar metade do preço de um carro normal, você vai me entregar ele quase 18 vezes mais rápido que um carro normal, o carro é bastante econômico e eu não vou mais precisar saber dirigir pra usá-lo?!

EXATAMENTE!!! Exclama o vendedor, achando que você gostou do produto.

Você gargalha na frente dele, agradece a atenção e diz que vai querer comprar um carro de verdade: daqueles que demoram de chegar (ou não são bem do jeito que nós queríamos), que você precisa de bastante experiência em direção pra lidar com ele no trânsito urbano e mesmo assim fica à mercê de suas distrações podendo causar pequenos (ou até grandes) acidentes. Um carro que custe mais caro mesmo, porque é o que todos têm e que qualquer mecânico com um bom tempo de experiência em mecânica pode dar uma olhada pra resolver os problemas que ele tenha! Porque você é que tem que ser diferente de todo mundo?

2 comentários:

Anônimo disse...

Imagine então a questão dos motoristas profissionais! O que serão deles?

João Gramacho disse...

Talvez nesse futuro eles terão o mesmo destino dos digitadores (pra não dizer das datílógrafas) e dos vendedores de enciclopédia que iam de porta em porta efetuar suas vendas.